segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Um Gringo em minha casa…


Da série: “Tudo acontece comigo…”. Em meados de 1999/2000, minha irmã decidiu cursar matemática na Universidade do Amazonas. Tipo, “Hello, sua louca? Cê jura que quer virar professora?”. Sim, ela queria. E devo reconhecer que o que eu tinha de retardado com números, ela tinha de gênio. Sendo assim, um professor muito do fiodapooteeña, aproveitando-se que minha irmã já não era tão centrada assim, perguntou se ela não queria participar de um programa de intercâmbio com a Universidade de Berlin. Consistia em receber um aluno alemão e enviar um aluno brasileiro. Ou algo tão esfarrapado quanto. Sem pestanejar, minha irmã topou o projeto e em algumas semanas estariamos recebendo a figura mais estranha que já vi na vida. 



Era um tipo magrelo, do tipo xupado, quase somali, se não fosse loiro de olho azul. Tipo, esquisito-verde-limão? Até dizer chega. Breeeeeega (Daqueles que usam bota cano longo e short Carla-Perez COM CUECA SAMBA CANÇÃO). E olha que atualmente eu moro no Australia, onde Asiáticos usam lente de contato azul, pintam o cabelo de cereja e as meninas se vestem de Sailor Moon para ir pra balada.


Para minha surpresa, o alien não falava um “A” em português, mas dominava o inglês. Mas NINGUEM, além de euzinho, falava a porra do inglês em casa. Ou seja, de cara, já remexeram na minha vida. Fui trabalhar e quando volto, tem um zumbi loiro levantando acampamento no meu quarto. Tipo, eu nunca havia dividido meu quarto, gente… ainda mais com um gringo que não usava desodorante porque "Achava que era uma química desnecessária e nada natural",  além é claro, de não tomar banho regularmente e enfiar a roupa suja de volta para o guarda-roupa. Tive de explicar que em pleno Amazonas, ele precisava ao menos de 2 banhos por dia, para evitar de entrar por uma porta e as pessoas correrem vomitando por outra.


O que ele estranhava e achava até nocivo pra epiderme.

Não contente com isso, eu estava  sendo usado como interprete. Minha irmã? Nem tchum pra ele. O Professor? Só apareceu pra entregar “a carga” e nunca mais vi.

Cês não tão entendendo meu drama! Eu criei uma sombra branca! Onde eu ia, o cara ia atrás. Ele não podia escutar o barulho de pratos ou panelas que surgia do nada perguntando o que tinha para comer! Ele não podia escutar o barulho da chave do carro (E eu não estou brincando!), que ele já estava na porta de casa, pronto para ir comigo para onde quer que eu fosse.


Tentei, de todas as formas, dizer que iria em algum lugar que ele talvez não gostasse, salão de beleza,  bar ou boate Gay, mas não funcionava. Lá estava ele. Feio, sorridente, solicito e e… simpatizante. Minha sorte é que ele era tão destoante do ambiente, que chamava atenção dos outros e ficava sendo bulinado a noite toda por todo tipo de gente: Rico, pobre, Gays, Lésbicas, Assexuados, Heteros, Seguranças, Pistoleiros(as), Drag Queens, Anões, Testemunhas de Jeová que vinham pregar na frente da boate, bêbados que achavam que ele era Mórmon, etc. E só assim, ele me deixava em paz.


Tudo isso sem me pagar uma caipirinha safada que fosse (Que aliás, ele bebia como água). Foram 6 meses. 6 FUCKING meses sem a menor privacidade mínima possível. Quer um exemplo? Até se eu quisesse ir no Motel, eu tinha de explicar que não poderia levá-lo por que queria dar “umazinha” e ainda assim, acredite, ele me pedia “carona” para algum lugar por perto. E tinha a cara de pau de me perguntar se quando eu terminasse, se eu não poderia buscá-lo. E minha mãe ainda soltava um "Owwwwnnnn, tadinho, filho... Busca ele… não custa nada...”. 

Meu, o inferno, sabe? E o telefone? A PORRA DO TELEFONE??? Na casa dos meus pais, havia uma linha telefônica em cada quarto (Sim, éramos mimados) e eu quase não usava o telefone do meu quarto porque passava mais tempo trabalhando ou na faculdade do que em casa. Mááááásssss, minha conta vinha altíssima porque o “Senhor Picolé de Xuxú Alemão” arranjou uma peguetchy que não falava “Me beija” em inglês ou alemão e nem tão pouco o português dele ia além do “Oi você bonita” e passavam horas pendurados inventando um idioma próprio. 



Um dia o pau comeu. Eu me enchi. Joguei as contas de telefone na cara do alemão e dei um prazo pra ele cantar pra subir. Ele pagou a conta (só a metade, o miserável!) e comprou um bilhete de barco regional para ir até Belém e de lá pegar um ônibus para percorrer o nordeste. Coisa de gringo mesmo. Saiu quase enxotado. Mas como Deus adora me pregar peças, uns dois dias depois, sairia em todos os jornais que um barco regional com destino a Belém e superlotado, havia afundado no meio da viagem, deixando dezenas de mortos e tals.


E para coroar, me aparece no jornal a foto de um defunto branquela e loiro, boiando no rio. Todo mundo em casa chocado e os olhares voltaram-se para mim. Ou seja: O gringo morreu e a culpa foi minha. Até, é claro, o gringo ligar, vivinho da silva, pedindo uma graninha pra ajudar a chegar em Belém, porque o barco em que ele estava, havia afundado e a bagagem dele foi junto. O que eu acho que nem foi grande perda, sabe? Tipo, aquelas roupas finalmente viram água. Sem sabão, mas já era um começo. Ou seja, o alívio não durou 2 minutos.



E o intercâmbio da minha irmã? Ahahahahhahahaha tá esperando até hoje…



Depois que eu digo que tudo acontece comigo, as pessoas duvidam… Ê!

Um comentário:

Nenna disse...

hiauhiahaihaiua
Essa eu não sabia...
Perdeu o contato com o gringo depois da "morte" dele???